Equador vota por suspender extração de petróleo no parque amazônico Yasuní
Os equatorianos votaram a favor de suspender parte da extração de petróleo em uma reserva da Amazônia, segundo os resultados do histórico referendo de domingo (20), considerado um exemplo mundial no âmbito do debate climático.
O "Sim" para deixar o petróleo no subsolo por tempo indeterminado no bloco 43 dentro da reserva Yasuní obteve o apoio de 59% dos votantes, contra o “Não”, revela a apuração do Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
O parque Yasuní (leste) é um dos lugares mais biodiversos do mundo, onde vivem comunidades indígenas, e é a joia da coroa da estatal Petroecuador.
O bloco 43 representa apenas 0,08% da extensão da reserva, de um milhão de hectares. É o principal setor petroleiro de Yasuní e o quarto maior do país, com 57 mil barris por dia (bd), número que pode subir para 90.000 bd. É responsável por 12% da produção nacional de 466.000 bd.
Embora outros campos de petróleo sigam ativos no parque Yasuní, o bloco 43 se tornou símbolo da democracia climática e atraiu a atenção de celebridades e ativistas internacionais, que observam de perto o desenrolar do referendo.
Com a vitória do "Sim", o governo direitista estima perdas de 16,47 bilhões de dólares (81,8 bilhões de reais na cotação atual) em 20 anos. A Petroecuador indicou nesta segunda que acatará a "decisão soberana" dos equatorianos após o fim da apuração - que está em 98% - e a proclamação dos resultados oficiais.
- Celebridades pelo "Sim" -
"Fizemos história! Esta consulta, nascida dos cidadãos, demonstra o maior consenso nacional no Equador. É a primeira vez que um país decide defender a vida e deixar o petróleo debaixo da terra. É uma vitória histórica para o Equador e para o planeta", declarou o grupo ambientalista Yasunidos, que promoveu o referendo, na rede social X (antigo Twitter).
O rendimento atual do bloco 43 fica atrás dos velhos campos amazônicos Sacha (72.000 bd), Auca (71.000 bd) e Shushufindi (62.000 bd), cujas produções estão em declínio.
Mas os defensores do "Sim" veem na consulta um precedente na defesa da Amazônia, chave na luta contra as mudanças climáticas. Sem ações urgentes, esta floresta terá sua capacidade de captar carbono e produzir oxigênio reduzida, concordam especialistas.
Em apenas um hectare do Yasuní, foram registradas mais de 100.000 espécies de invertebrados. Além disso, a floresta é o lar de mais de 600 espécies de aves, 220 de mamíferos, 120 de répteis e 120 de anfíbios.
Sua extraordinária riqueza chamou a atenção de famosos como Leonardo Di Caprio. O astro de Hollywood fez campanha a favor do "Sim" e aplaudiu o referendo como "um exemplo de democratização da política climática".
A ativista sueca Greta Thunberg também acompanhou de perto a consulta. "Isso é que ação climática de verdade!", escreveu no Instagram.
Uma caravana de indígenas percorreu várias cidades do Equador, incluindo a capital, para promover o "Sim".
- Vitória indígena -
A extração de petróleo no bloco 43 começou em 2016, após anos de um tenso debate e de esforços fracassados sob o governo do então presidente socialista Rafael Correa (2007-2017).
O ex-presidente falhou em sua tentativa de fazer a comunidade internacional pagar ao Equador em torno de 3,6 bilhões de dólares (17,93 bilhões de reais) em compensações para evitar a extração nesse campo do Yasuní.
Na reserva, vivem waoranis, kichwas, e também as comunidades indígenas em isolamento voluntário tagaeri, taromenane e dugakaeri.
“Comemoremos juntos a vitória do #SimAoYasuni! Hoje o #Equador deu um passo gigante para proteger a vida, a biodiversidade e os povos indígenas”, comemorou a poderosa organização indígena Conaie no X.
Localizada entre as províncias de Pastaza e Orellana, esta reserva da biosfera de 2,7 milhões de hectares, que inclui o parque de mesmo nome, tem um papel fundamental no reabastecimento das fontes hídricas.
O Equador realizou em paralelo uma consulta popular local para evitar a mineração em seis pequenos povoados rurais de Quito, de cerca de 20.000 habitantes.
Segundo as informações mais recentes, o "Sim" tinha 68% de apoio para proteger a floresta do Chocó Andino, que faz parte das sete reservas da biosfera no Equador.
O Chocó Andino é considerado o pulmão de Quito, que abriga mais de três milhões de pessoas, e também é lar do urso andino.
No domingo, os equatorianos também votaram para eleger um novo presidente, que será definido no segundo turno, em 15 de outubro, entre os candidatos de esquerda e direita, Luisa González e Daniel Noboa.
A.P.Huber--NZN