Multidão 'apedreja satanás' no último ritual da peregrinação a Meca
Milhares de muçulmanos vestidos com túnicas se reuniram nesta quarta-feira (28) para o ritual de "apedrejamento de satanás" na Arábia Saudita, nos momentos finais da maior peregrinação (hajj) desde o início da pandemia de covid.
Durante o amanhecer, centenas de milhares de fiéis começaram a atirar pedras contra os três monólitos de concreto que representam satanás, o último grande ritual da peregrinação.
Os peregrinos caminharam até Mina, perto de Meca, um dia após as orações no Monte Arafat, que aconteceram sob a impressionante temperatura de 48ºC.
"Não voltarei a fazer o hajj até que aconteça no inverno", disse Farah, uma tunisiana de 26 anos, sobre o evento que segue o calendário lunar e acontece no verão (hemisfério norte).
"Meu corpo está derretendo", acrescentou.
Mais de 1,8 milhão de peregrinos, em sua maioria do exterior, participaram no primeiro hajj sem restrições desde 2019, antes da pandemia, quando a Arábia Saudita recebeu 2,5 milhões de pessoas.
O número de participantes, anunciado na terça-feira pelas autoridades sauditas, ficou abaixo das expectativas de superar o balanço de 2019.
O hajj é uma fonte de prestígio e faturamento para a Arábia Saudita, que tenta diversificar sua economia - muito dependente do petróleo - com outras atividades, como o turismo.
O apedrejamento de satanás marca o início da festa de Eid al-Ada (celebração do sacrifício), quando os muçulmanos compram e matam animais para recordar a disposição de Abraão de matar o filho.
Mais tarde, os peregrinos retornam a Meca para a despedida, chamada "tawaf", e dão sete voltas ao redor da Kaaba, o enorme cubo preto da Grande Mesquita que é o ponto focal do Islã.
- Incidentes -
Alguns incidentes em Mina provocaram muitas vítimas há alguns anos. Um grande tumulto em 2015 deixou pelo menos 2.300 mortos na maior tragédia registrada na história do hajj. Um incidente similar matou 364 fiéis em 2006.
Também foram registrados incidentes similares em 2004, 1998 e 1994.
Em 1990, a falha em um sistema de ventilação provocou uma correria que matou 1.426 peregrinos, a maioria procedentes da Ásia.
Desde 2015 não são registrados grandes incidentes e o local passou por reformas, que incluem uma ponte de vários níveis para permitir o acesso seguro dos peregrinos aos monólitos de apedrejamento.
Nos últimos anos, o hajj coincidiu com o verão saudita, agravado pela mudança climática que tornou o clima no deserto ainda mais intenso.
Os 48ºC de terça-feira marcaram o dia mais quente do hajj este ano. Cientistas alertam que temperaturas de 50ºC podem ser frequentes na Arábia Saudita até o fim do século.
Para evitar os efeitos do calor, muitos peregrinos caminham com guarda-chuvas e outros colocam as mantas de oração sobre as cabeças para evitar o sol.
Mais de 32.000 profissionais de saúde foram mobilizados para atender pessoas com insolação e outras crises de saúde. Garrafas de água são distribuídas de modo gratuito.
Ao sair do Monte Arafat na terça-feira, o egípcio Sobhi Saeed, 56 anos, declarou que estava realizado, mas também esgotado, com o fim do hajj.
"Estou muito exausto. Estou muito desidratado", comentou.
O hajj começou no domingo na Grande Mesquita de Meca, o local mais sagrado do Islã, e na terça-feira aconteceram as orações no Monte Arafat, onde os fiéis acreditam que o profeta Maomé proferiu seu último sermão.
A.Ferraro--NZN