Ex-diretor e editor de tabloide queria 'proteger' Trump
Uma das testemunhas da Promotoria no julgamento de Donald Trump detalhou, nesta quinta-feira (25), sua colaboração com o então advogado pessoal do magnata para evitar que um suposto relacionamento extraconjugal viesse à tona e interferisse em sua campanha eleitoral de 2016.
Trump, novamente em campanha eleitoral para uma possível revanche contra o presidente democrata Joe Biden em novembro, é o primeiro ex-presidente dos Estados Unidos a se sentar no banco dos réus.
O republicano é acusado de falsificar registros comerciais para ocultar o pagamento de 130 mil dólares (671 mil reais na cotação atual) à ex-atriz pornô Stormy Daniels. A Promotoria alega que Trump cometeu “fraude eleitoral” ao encarregar seu então advogado Michael Cohen de pagá-la, às vésperas das eleições nas quais venceu Hillary Clinton.
No terceiro dia de interrogatório, David Pecker, ex-CEO da editora que publicava o tabloide National Enquirer e primeira testemunha a depor, contou sobre a prática conhecida como "pegar e matar", que consiste em comprar notícias potencialmente prejudiciais e enterrá-las.
Foi assim com o caso da modelo da Playboy Karen McDougal, a quem o National Enquirer deu 150 mil dólares (789 mil reais) por sua história sobre uma suposta relação sexual que teria tido com o magnata e que nunca foi publicada.
"Compramos a história para que nenhum outro veículo a publicasse. Não queríamos que prejudicasse Trump ou atrapalhasse sua campanha", reconheceu o homem de 72 anos que também foi editor do jornal.
"Queria proteger minha empresa, queria me proteger e também queria proteger Donald Trump", afirmou Pecker aos membros do júri, descrevendo que os esforços com o candidato e seu advogado visavam influenciar as eleições presidenciais.
Sobre o pagamento, Cohen lhe disse: "O chefe vai cuidar disso". Os pagamentos a McDougal foram disfarçados como serviços para a American Media, a empresa por trás do tabloide, para evitar violar as leis de financiamento de campanhas.
Mas quatro dias antes das eleições, uma matéria exclusiva do Wall Street Journal expôs a história de McDougal. Pecker lembrou que Trump ligou para ele e estava "muito chateado".
"Como isso pôde acontecer? Eu pensei que você tinha tudo sob controle", teria dito Trump a ele, para depois desligar sem se despedir.
E quando surgiu a história de Daniels, Pecker resistiu em pagar. "Eu não sou um banco", declarou Pecker, que não queria que sua publicação, vendida em supermercados, fosse associada a uma estrela pornô.
O executivo sugeriu a Cohen que pagasse do próprio bolso, o que os promotores dizem que o então advogado e faz-tudo de Trump fez usando sua própria linha de crédito hipotecário, transferindo através de uma empresa de fachada.
Antes de o julgamento ser adiado até sexta-feira, a defesa do republicano se concentrou no contra-interrogatório para demonstrar que essa prática de "pegar e matar" era algo comum na empresa, mesmo antes de colaborar com Trump.
- Contrariado -
Em plena campanha eleitoral para as eleições de 5 de novembro, o magnata aparece nas sessões cada vez mais irritado por ter sido obrigado a comparecer diariamente à antiga sala do tribunal e ouvir tanto a acusação como o depoimento da primeira testemunha.
No início da audiência, a Promotoria novamente denunciou ao juiz Juan Merchan que Trump seguia ignorando sua ordem de proibir que Trump insultasse pessoal relacionado ao julgamento. Após uma audiência realizada na terça-feira para analisar reiteradas violações, Merchan ainda deve anunciar se o multa ou não.
Talvez buscando evitar violar a ordem, Trump descreveu o depoimento desta quinta-feira como "impressionante e surpreendente". "Um dia incrível", declarou à imprensa ao sair do tribunal.
Em paralelo, a Suprema Corte dos Estados Unidos deve emitir uma decisão sobre se o republicano desfruta de imunidade absoluta como presidente, conforme ele argumenta. Em uma reunião nesta quinta, mostrou-se cética, embora pareça disposta a emitir uma sentença que adiaria ainda mais o julgamento de Trump por suposta interferência eleitoral.
R.Schmid--NZN