Futebol comemora 'condenação histórica' por racismo contra Vini Jr.
O mundo do futebol comemorou a "condenação histórica" a oito meses de prisão anunciada nesta segunda-feira (10) na Espanha contra três torcedores do Valencia que insultaram com termos racistas em maio de 2023 o astro brasileiro Vinícius Júnior, do Real Madrid.
"Essa primeira condenação penal da história da Espanha não é por mim. É por todos os pretos", escreveu o atacante revelado pelo Flamengo em uma mensagem divulgada em suas redes sociais.
"Que os outros racistas tenham medo, vergonha e se escondam nas sombras. Caso contrário, estarei aqui para cobrar. Obrigado a La Liga e ao Real Madrid por ajudarem nessa condenação histórica", acrescentou.
Os três homens, de entre 18 e 21 anos, admitiram os atos, que provocaram uma onda de indignação internacional. Eles também serão proibidos de frequentar estádios de futebol para partidas de 'La Liga' ou da seleção espanhola durante dois anos, segundo o acordo entre as partes em um julgamento rápido realizado nesta segunda-feira, informou o Tribunal Superior de Justiça de Valência em um comunicado.
A princípio, os condenados, que não têm antecedentes criminais, não serão levados para uma penitenciária, uma vez que os juízes na Espanha costumam suspender as penas de prisão quando estas não superam dois anos de condenação.
Mas eles terão que pagar os custos vinculados ao processo, acrescenta o tribunal, segundo o qual os insultos racistas provocaram no jogador "sentimentos de frustração, vergonha e humilhação, com a consequente violação da sua dignidade".
- 'Condenação histórica' -
A decisão é a primeira deste tipo emitida na Espanha, segundo afirmaram o Real Madrid e a La Liga em comunicados separados, nos quais comemoram a sentença.
O clube espanhol indicou que os três torcedores do Valencia divulgaram uma "carta de desculpas" direcionada ao atacante de 23 anos, na qual pedem aos "torcedores que afastem das competições qualquer vestígio de racismo e intolerância".
O presidente da Fifa, Gianni Infantino, exaltou o "passo positivo" e disse que as pessoas que se comportam de maneira racista "devem ser excluídas e não são parte de nossa comunidade nem do futebol".
O presidente da La Liga, Javier Tebas, considerou a condenação "uma grande notícia para a luta contra o racismo na Europa".
"Esta sentença [...] repara o dano sofrido por Vinícius Jr. e envia uma mensagem clara às pessoas que comparecem a um estádio de futebol para insultar, de que a 'La Liga' vai detectar, denunciar e que haverá consequências penais para eles", afirmou Tebas em um comunicado.
O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ednaldo Rodrigues, considerou a sentença "branda", mas que os passos no combates antirracista estão sendo dados "degrau em degrau".
"A decisão é um começo, um caminho, e mostra a importância da pressão da sociedade para que as autoridades realmente se envolvam nesta luta contra o racismo", declarou Rodrigues, primeiro presidente negro da CBF, em um comunicado.
- Crimes de ódio -
No dia 21 de maio de 2023, Vini Jr. foi recebido com gritos de "macaco" ao chegar ao estádio do Valencia, onde disputou uma partida pelo Real Madrid, válida pelo campeonato espanhol. Durante o jogo, o atacante foi alvo de vários insultos.
A polícia, que investigou o caso por possíveis "crimes de ódio", uma categoria penal que inclui este tipo de racismo, anunciou três dias depois a detenção dos três torcedores, com idades entre 18 e 21 anos, graças à colaboração do Valencia.
Os incidentes provocaram um debate na Espanha, onde os casos de racismo são comuns há várias décadas em estádios de futebol. Também despertaram indignação no exterior, onde proliferaram demonstrações de apoio ao atacante brasileiro.
Símbolo da luta contra o racismo no futebol espanhol, Vini Jr. já foi alvo de ofensas em várias partidas nos últimos anos, mas apenas alguns incidentes resultaram em punições.
Em junho de 2023, as autoridades espanholas proibiram a entrada nos estádios durante dois anos de quatro torcedores radicais do Atlético, acusados de pendurar um boneco vestido com o uniforme de Vini Jr. em uma ponte da capital espanhola.
O processo penal instaurado contra eles ainda está em curso.
W.Odermatt--NZN