Julian Assange perto de recuperar a liberdade após acordo com a Justiça dos EUA
O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, foi libertado da prisão no Reino Unido e deve passar por uma audiência final depois de alcançar um acordo judicial com as autoridades dos Estados Unidos, o que representa o fim de uma saga judicial de vários anos.
Perseguido pelas autoridades americanas por ter divulgado centenas de milhares de documentos confidenciais, o australiano de 52 anos comparecerá na quarta-feira às 9H00 locais (20H00 de Brasília nesta terça-feira) a um tribunal federal das Ilhas Marianas do Norte, território dos Estados Unidos no Pacífico, segundo documentos judiciais publicados na madrugada desta terça-feira.
"Julian Assange está livre" e deixou o Reino Unido e a penitenciária de segurança máxima perto de Londres onde permaneceu detido por cinco anos, informou o WikiLeaks na rede social X. A organização, que divulgou um vídeo de 13 segundos que mostra o australiano embarcando em um avião, informou que ele iniciou o voo no aeroporto de Stansted, em Londres.
O avião pousou em Bangcoc às 12H30 (2H30 de Brasília) para uma escala técnica, segundo correspondentes da AFP. O avião seguirá para Saipan, nas Ilhas Marianas do Norte, às 21H00 (11H00 Brasília, segundo uma fonte tailandesa.
Em um tribunal federal na ilha americana, ele deve se declarar culpado de "conspiração para obter e disseminar informações de defesa nacional", segundo os documentos judiciais.
- "A diplomacia secreta" -
Assange poderia ser condenado a 62 meses de prisão, mas por ter cumprido um tempo similar de prisão preventiva no Reino Unido ele deve retornar em liberdade para a Austrália.
Sua esposa, Stella Assange, expressou "imensa gratidão" aos que se mobilizaram por anos para conseguir transformar sua liberdade em "realidade".
Assange "será um homem livre depois que o acordo for ratificado pelo juiz" na quarta-feira, explicou à BBC sua esposa e mãe de seus dois filhos.
O acordo implica que seu marido se declare culpado de uma única acusação, que "diz respeito à obtenção e divulgação de informações sobre a defesa nacional", explicou.
Sua mãe, Christine Assange, disse estar agradecida pelo fim do "calvário" do filho. "Isso mostra a importância e o poder da diplomacia secreta", afirmou.
O governo australiano reagiu dizendo que o caso Assange "já se prolongava por muito tempo" e que a sua detenção já não interessava a mais ninguém.
A porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direito Humanos, Elizabeth Throssel, também celebrou a libertação e "e os avanços significativos para uma solução definitiva do caso".
"Como já falamos de maneira reiterada, este caso apresentou uma série de preocupações em termos de direitos humanos", acrescentou.
"Não deveia ter sido privado da liberdade por nenhum dia por ter publicado informações de interesse público", disse Rebecca Vincent, diretora da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
Stella Assange fez um apelo por uma campanha de financiamento para pagar os 520 mil dólares que seu marido deve reembolsar ao governo australiano depois de fretar o voo entre Londres e a Austrália.
- Uma saga de 14 anos -
O acordo, que encerra uma saga de quase 14 anos, que inclui sete anos de confinamento na embaixada do Equador em Londres, foi anunciado duas semanas antes de uma audiência crucial nos tribunais britânicos.
Nos dias 9 e 10 de julho, o recurso de Assange contra a sua extradição para os Estados Unidos seria examinado.
Desde 2019, quando ele foi levado para uma prisão de segurança máxima em Londres, Assange lutava para não ser entregue à Justiça americana, que o persegue pela publicação de mais de 700 mil documentos confidenciais sobre atividades militares e diplomáticas, em particular no Iraque e Afeganistão.
O australiano, alvo de 18 acusações, enfrentava o risco de ser condenado a até 175 anos de prisão com base na Lei de Espionagem.
O governo britânico aprovou a extradição em junho de 2022. Em maio, no entanto, dois juízes concederam o direito de apelação.
- Sete anos na embaixada do Equador -
O fundador do WikiLeaks foi preso pela polícia britânica em abril de 2019, depois de passar sete anos confinado na embaixada do Equador em Londres, de onde tentou evitar a extradição para a Suécia em uma investigação por estupro, que foi arquivada no mesmo ano.
Nos últimos anos, a pressão aumentou para que presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, retirasse as acusações contra ele. A Austrália apresentou um pedido formal em fevereiro, que o presidente democrata afirmou que estava considerando.
"Que o primeiro-ministro (australiano, Anthony Albanese) tenha declarado algumas vezes publicamente "é suficiente', e que o Parlamento o tenha apoiado, foi algo significativo e absolutamente contemplado pelos Estados Unidos", declarou à AFP Emma Shortis, pesquisadora de questões internacionais e de segurança no The Australia Institute.
H.Roth--NZN