'Corrupção em larga escala', a hora da verdade para o senador democrata Bob Menéndez nos EUA
Após quase dois meses de julgamento, a promotoria de Nova York concluiu nesta terça-feira (9) que o poderoso senador democrata Robert 'Bob' Menéndez colocou seu "poder à venda" ao participar de um "caso clássico de corrupção em larga escala".
O ex-presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, poderoso cargo que deixou ao ser acusado, e peso-pesado do Partido Democrata, enfrenta 18 acusações que incluem suborno, fraude, extorsão, obstrução de justiça e recebimento de pagamentos para atuar como agente estrangeiro dos governos de Egito e Catar.
Segundo os promotores, Menéndez (70 anos) e sua esposa, Nadine Arslanian, receberam dezenas de milhares de dólares, barras de ouro e um carro de luxo Mercedes conversível, dentre outras vantagens.
Se for considerado culpado pelo júri popular, o político de Nova Jersey e que tem origem cubana poderá ser condenado a até 20 anos de prisão.
Durante as alegações finais, que se estenderam pela tarde de segunda-feira e terminaram nesta terça, o promotor Paul Monteleoni lembrou ao júri que, em 2022, durante uma busca na casa dos Menéndez em Nova Jersey, foram encontrados "envelopes com dinheiro" escondidos em roupas, armários e num cofre, totalizando 480.000 dólares (R$ 2,6 milhões na cotação atual).
Além disso, havia mais 70.000 dólares (R$ 380,6 mil na cotação atual) em um cofre pertencente à sua esposa, além de 13 barras de ouro, sendo quatro delas de 1 kg cada. Segundo a promotoria, esses itens foram entregues por três empresários que participaram do amplo "esquema de corrupção" e que buscavam enriquecer sob a proteção de Menéndez.
Dois desses empresários, Fred Daibes e Wael Hana, deverão comparecer ao banco dos réus ao lado do senador, enquanto um terceiro, José Uribe - que presenteou a esposa de Menéndez com um Mercedes - concordou em colaborar com a Justiça após se declarar culpado.
O julgamento de Nadine Arslanian havia sido adiado para julho devido ao tratamento de um câncer de mama.
De acordo com os promotores, Menéndez interferiu junto à Justiça de Nova Jersey e junto ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pela nomeação do novo promotor distrital neste estado, com o objetivo de tentar arquivar processos judiciais que envolviam Daibes e Uribe.
O democrata teria transferido "informações sensíveis" do governo dos Estados Unidos ao exterior e "tomado medidas que ajudaram secretamente o governo do Egito", especialmente nas áreas militar e de inteligência.
Menéndez interveio junto ao Departamento de Agricultura dos Estados Unidos para que o egípcio Wael Hana mantivesse o monopólio de importação da carne 'halal' (o abate de animais segundo a certificação religiosa muçulmana) concedido pelo governo do Egito.
Além disso, teria ajudado Daibes a investir em um fundo ligado ao Catar, o apresentando a um membro da família real catari que também era diretor de uma empresa desse país do Oriente Médio.
Os empresários, por sua vez, pagaram pelos serviços prestados com ouro e dinheiro. Também quitaram uma hipoteca da esposa do senador, e Wael Hana a contratou como vice-presidente de sua empresa, sem que ela tivesse a necessidade de comparecer ao trabalho, pagando um salário anual de 120.000 dólares (R$ 652,5 mil).
- 'O amor da minha vida' -
Em uma das centenas de mensagens exibidas durante a avaliação das comunicações mantidas entre os membros do esquema, Nadine Arslanian, que identifica seu telefone como "mon fiancé parfait" (meu noivo perfeito, em francês), escreveu para Menéndez: "Parece que halal funcionou. Pode ser um 2019 fantástico em todos os sentidos."
A defesa do senador tentou separar seus negócios dos de sua esposa, com quem ele se casou em 2020, dois anos após conhecê-la.
Os subornos teriam começado a circular em fevereiro de 2018, logo após Menéndez ser absolvido de um outro julgamento por corrupção pela falta de unanimidade do júri. A promotoria acabou desistindo de iniciar outro processo.
Senador desde 2006 e anteriormente membro da Câmara dos Representantes por 14 anos, Menéndez foi um democrata influente no Congresso por três décadas.
Como presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, foi um feroz opositor da normalização das relações com Cuba, um inimigo ferrenho de Venezuela e China, e um forte defensor do apoio a Israel.
G.Kuhn--NZN