Rússia, no limbo olímpico, compete na Venezuela sob sua bandeira e hino
"Todos de pé para receber a Federação Russa!" anunciaram pelos alto-falantes enquanto dezenas de atletas russos desfilavam em um estádio na Venezuela agitando sua bandeira, no momento em que a participação de atletas desse país nos Jogos Olímpicos de Paris-2024 segue indefinida.
A Rússia compete como convidada nos Jogos Esportivos da ALBA, evento inaugurado nesta sexta-feira que reúne os países da "Aliança Bolivariana para os Povos da América", grupo político criado pelos falecidos Hugo Chávez e Fidel Castro em 2004.
A presença de 48 atletas dessa nação neste evento coincide com momentos de tensão e ameaças de boicote após a recomendação do presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, para permitir que russos e bielorrussos participem de competições oficiais sob "bandeira neutra" e "a caráter individual".
"Bem-vindos os atletas que vêm da nossa irmã Rússia", declarou o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, em seu discurso na cerimônia de abertura, em um estádio de beisebol em La Guaira, cidade litorânea vizinha a Caracas.
O COI, que baniu os atletas russos após a invasão da Ucrânia em 2022, ainda não tomou uma decisão sobre sua participação nos Jogos de Paris-2024.
Músicas tradicionais russas tocavam enquanto seus representantes desfilavam, com o boxeador Ivan Veriasov como porta-bandeira. Veriasov e a ginasta de trampolim Iana Lebedeva, que participaram de Tóquio-2020, se destacavam na delegação ao lado da mesa-tenista Iana Noskova, que competiu em Londres-2012.
Os Jogos da ALBA continuarão até o dia 28 de abril em Caracas e nos estados vizinhos de Miranda e La Guaira.
- "Aqui eles apreciam nossa amizade" -
A sugestão do COI dividiu as federações esportivas, já que muitas mantêm sua recusa em aceitar russos e bielorrussos, e até levou a ameaças de boicote contra Paris-2024.
O atletismo e a natação mantêm seus vetos, embora outros esportes tenham aceitado a abordagem.
O presidente da World Athletics, Sebastian Coe, insistiu que as sanções são "o único meio pacífico de se opor às ações russas e trazer a paz". A World Swimming aceitou a recomendação do COI, embora russos e bielorrussos ainda estejam de fora do Mundial de Natação de julho.
"No momento em que estamos sendo pressionados por todos os lados, nos proíbem a cultura russa, a bandeira russa, o hino nacional russo, vemos como aqui na Venezuela eles apreciam nossa solidariedade, nossa amizade", afirmou o embaixador russo em Caracas, Sergey Mélik-Bagdasarov.
As relações entre os dois países se fortaleceram nas últimas duas décadas com Chávez, que apoiou Moscou na guerra da Geórgia em 2008, e seu sucessor no poder, Maduro, que recebeu respaldo dos russos diante das sanções dos Estados Unidos e que lhes deu seu apoio durante a guerra na Ucrânia.
Esse conflito já deixou o esporte russo fora de megaeventos como a Copa do Mundo de 2022 no Catar.
- Longa pausa -
Atletas russos participaram dos jogos de Tóquio-2020, remarcados para 2021 devido à pandemia, sob a bandeira de seu Comitê Olímpico (ROC), como punição naquela ocasião devido a uma política sistemática de doping que foi acobertada pelo Estado.
Como delegação do ROC, os russos conquistaram 20 medalhas de ouro, 28 de prata e 23 de bronze naquele evento, ficando atrás apenas de Estados Unidos, China, Japão e Reino Unido. No entanto, nenhum dos que subiram ao pódio puderam ouvir seu hino, substituído pelo Concerto para Piano nº 1 de Tchaikovsky.
Mas agora poderão ouvi-lo nos Jogos da ALBA, que voltam a ser realizados após mais de uma década de hiato. Foram quatro edições entre 2005 e 2011.
Participam Antígua e Barbuda, Bolívia, Cuba, Dominica, Granada, Nicarágua, São Cristóvão e Névis, Santa Lúcia e São Vicente e Granadinas, além de Venezuela e Rússia.
L.Zimmermann--NZN