Ataques russos matam 26 na Ucrânia, que anuncia contraofensiva iminente
Vários ataques russos com mísseis e drones atingiram, na madrugada desta sexta-feira (28), provocaram pelo menos 26 mortes na Ucrânia, poucas horas antes de Kiev anunciar que os preparativos para sua contraofensiva "estão chegando ao fim".
"Os preparativos estão chegando ao fim", afirmou o ministro ucraniano da Defesa, Oleksiy Reznikov, em referência à contraofensiva aguardada há vários meses para tentar retomar territórios ocupados pela Rússia no leste e sul do país.
"O equipamento foi prometido, preparado e parcialmente entregue. Em um sentido amplo, estamos prontos", acrescentou em uma entrevista coletiva em Kiev, ao falar sobre o envio de material pelos países ocidentais, incluindo tanques, blindados e munições.
O ministro completou: "Enquanto existir a vontade de Deus, a meteorologia e a decisão dos comandantes, nós faremos" a contraofensiva.
Durante a madrugada, vários ataques em larga escala, os primeiros desde o início de março, atingiram várias cidades ucranianas.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, condenou os ataques e prometeu uma resposta ao "terror russo". O Ministério da Defesa russo, por sua vez, informou que Moscou bombardeou "alvos militares na Ucrânia" com "armas de alta precisão".
Na cidade ucraniana de Uman, com cerca de 80 mil habitantes na região central do país, ao menos 23 pessoas morreram quando um míssil atingiu um prédio residencial, informou o governador regional, Igor Taburets.
"Quero ver meus filhos, vivos ou mortos", declarou à AFP Dmitri, um homem de 33 anos que mora no edifício atingido por um míssil. "Eles estão sob os escombros", acrescentou.
O ucraniano disse que é natural de Lugansk, uma área do leste do país sob controle russo. "Eu vi muitas coisas, mas ainda não perdi meus filhos", disse.
Em Uman, na região central do país, a cerca de 200 km de Kiev, jornalistas da AFP viram um edifício residencial destruído e entulhos espalhados pelo chão.
- Ataques contra Kiev e Dnipro -
Em Dnipro, no centro-leste da Ucrânia, outro ataque deixou dois mortos, uma mulher e um menino de três anos, afirmou o prefeito Boris Filatov.
O exército ucraniano anunciou no Telegram que derrubou "21 mísseis de cruzeiro X-101/X-555 de um total de 23 e dois drones" no país.
O ataque com mísseis foi lançado "por volta das 4H00" (22h de quinta, horário de Brasília) a partir de bombardeiros estratégicos russos do tipo Tu-95 localizados na área do Mar Cáspio, segundo as Forças Armadas.
Em Kiev, uma rede elétrica foi cortada ao ser atingida por destroços que também provocaram o bloqueio de uma estrada, segundo as autoridades.
Na localidade de Ukrainka, os estilhaços de um míssil derrubado atingiram um edifício. Uma menina ficou ferida e foi hospitalizada, segundo o governador Ruslan Kravchenko.
A Rússia bombardeou de modo incessante as cidades ucranianas e a infraestrutura do país durante o inverno (hemisfério norte, verão no Brasil), mas o ritmo dos ataques diminuiu nos últimos meses.
Enquanto isso, em Donetsk, a principal cidade controlada por Moscou no leste da Ucrânia, autoridades pró-russas afirmaram na sexta-feira que nove pessoas morreram e 16 ficaram feridas em ataques das forças ucranianas.
- Uma contraofensiva aguardada -
A possibilidade de uma contraofensiva do Exército ucraniano, apoiada pelos equipamentos enviados pelas potências ocidentais, significaria uma nova fase da guerra, mais de um ano após o início da invasão, em fevereiro de 2022.
Os aliados da Otan e seus parceiros entregaram 230 tanques e 1.550 veículos blindados à Ucrânia, anunciou na quinta-feira o secretário-geral da Aliança Atlântica, Jens Stoltenberg.
Ao mesmo tempo, a Rússia, que controla cerca de 20% do território ucraniano, mobilizou centenas de milhares de reservistas para manter seus avanços territoriais no leste e no sul da Ucrânia. O Kremlin mantém o objetivo de conquistar a totalidade do Donbass, uma região conhecida por sua atividade industrial.
O vice-primeiro-ministro russo, Marat Khusnullin, afirmou nesta sexta-feira que visitou Bakhmut e prometeu que a Rússia reconstruirá a cidade.
No campo diplomático, a possibilidade de um cessar-fogo ou de um acordo de paz segue remota, apesar de algumas iniciativas neste sentido por parte do Brasil e da China nos últimos meses.
O presidente ucraniano pediu nesta sexta ao seu contraparte chinês, Xi Jinping, que o ajude com a volta para a Ucrânia das crianças ucranianas "deportadas" pela Rússia, que Kiev estima em 20 mil.
Enquanto isso, a Comissão Europeia anunciou que Polônia, Hungria, Bulgária, Romênia e Eslováquia aceitaram, apesar das relutâncias iniciais, prolongar a suspensão das tarifas e direitos sobre os cereais ucranianos importados pelos países da União Europeia.
R.Bernasconi--NZN