Combatentes no Sudão prolongam trégua, que não é respeitada
Os confrontos violentos continuam em Cartum, capital do Sudão, embora o Exército e os paramilitares tenham anunciado neste domingo (30) a extensão de uma trégua, pouco respeitada, mas que facilitou negociações a evacuação de estrangeiros.
O Sudão sofre com bombardeios e disparos antiaéreos desde 15 de abril, quando começou o conflito entre o general Abdel Fatah al Burhan, que dirige oficialmente o país, e aquele que já foi seu número dois e agora é seu rival, o militar Mohamed Hamdan Daglo, que comanda o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (FAR).
Os confrontos continuaram na capital Cartum e em outras regiões, especialmente na área de Darfur, como aconteceu durante uma primeira trégua, que também não conseguiu deter os combates.
Pouco antes do término do cessar-fogo, as forças rivais anunciaram que o estenderiam por 72 horas, "sob a mediação dos Estados Unidos e da Arábia Saudita", disse o Exército em comunicado.
Mas, dada "a escala e a rapidez com que os acontecimentos se desenvolvem no Sudão", o secretário-geral da ONU, António Guterres, decidiu enviar à região o seu emissário para os Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, informou neste domingo o seu porta-voz, Stephane Dujarric.
O primeiro avião com ajuda humanitária do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) pousou neste domingo em Porto Sudão, um carregamento de oito toneladas de ajuda que chega quando o espaço aéreo do país encontra-se fechado.
O conflito deixa pelo menos 528 mortos e 4.599 feridos, segundo o Ministério da Saúde, balanço que pode piorar já que os confrontos impossibilitam o recolhimento dos corpos.
Os combates continuaram na noite deste domingo e caças continuaram a sobrevoar Cartum e Omdurman, subúrbio ao norte, segundo testemunhas presentes no local.
"Há confrontos e tiroteios muito violentos", disse uma testemunha à AFP.
- "Intensificar os esforços" -
Desde o início do conflito, os cinco milhões de habitantes da capital permanecem entrincheirados e tentam sobreviver, apesar da falta de alimentos, água e eletricidade. Outros decidiram fugir.
As autoridades do estado federal de Cartum anunciaram que deram "permissão para não trabalhar até nova ordem" aos funcionários da capital, enquanto a polícia confirmou sua mobilização na cidade para evitar saques.
A maioria dos hospitais do país fecharam as portas. Nos que continuam abertos, "a situação é insustentável", reconheceu Majzub Saad Ibrahim, médico de Ad Damir, capital do estado federal do Nilo, ao norte de Cartum.
Dezenas de milhares de pessoas fugiram em travessias difíceis para países vizinhos, como Egito, Etiópia, Chade ou Sudão do Sul.
Cerca de 6.000 pessoas, a maioria mulheres, fugiram do Sudão para a República Centro-Africana, disse a Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) à AFP neste domingo.
Governos estrangeiros estão tentando evacuar seus cidadãos e nacionais de outros países de Porto Sudão para Jidá, na Arábia Saudita, do outro lado do Mar Vermelho.
O chefe da diplomacia saudita, Fayçal ben Farhan, reuniu-se neste domingo com um emissário do general Burhan.
Mas, apesar dos apelos da comunidade internacional, não há solução política à vista para acabar com os confrontos entre os dois generais rivais.
Segundo a ONU, 75 mil pessoas foram deslocadas pelos combates para outras partes do país e pelo menos 20.000 fugiram para o Chade, 4 mil para o Sudão do Sul e 3.500 para a Etiópia.
Segundo estimativas, se a guerra continuar, até 270 mil pessoas deverão fugir do país.
As autoridades sudanesas informaram que os combates atingem 12 dos 18 estados do país, que tem 45 milhões de habitantes e é um dos mais pobres do mundo.
- "Tribos armadas" -
Segundo a ONU, quase 100 pessoas foram mortas desde segunda-feira em El Geneina, capital de Darfur do Oeste, uma região ainda fortemente marcada pela guerra civil dos anos 2000.
"A violência armada entre tribos" levou à destruição do principal hospital da cidade, informou o Ministério da Saúde.
Em um momento em que o drama humanitário se agrava, a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) anunciou que precisaria "suspender quase todas as suas atividades" devido à violência.
Apesar da atual rivalidade entre Burhan e Daglo, que levou o país a uma situação crítica, os dois generais se aliaram em um golpe em 2021 para marginalizar os civis do governo, que assumiram após a saída de al Bashir.
Mas, pouco tempo depois, começaram as suas divergências devido ao seu desacordo sobre a integração dos paramilitares no Exército, o que deu origem ao conflito que assola o país.
M.J.Baumann--NZN