Ex-paramilitares pedem que governo da Colômbia retome processo de paz
Dezenas de ex-paramilitares de extrema direita que entregaram os fuzis há duas décadas se reuniram neste sábado (06), no centro da Colômbia, para pedir ao governo de esquerda que retome e corrija seu processo de paz, alegando violações do acordo.
Reunidos em um centro esportivo do município de Puerto Boyacá, os ex-combatentes expressaram vontade de fazer parte da política de "Paz Total", com a qual o presidente Gustavo Petro aspira a pôr fim a mais de meio século de conflito interno .
Um dos ex-comandantes das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), Edward Cobos Téllez, vulgo "Diego Vecino", leu uma declaração em que pedem a retomada do "processo político de paz entre o Estado colombiano e as AUC". Estas milícias de extrema direita semearam o terror nos anos 1990, em meio à sua guerra contra as guerrilhas de esquerda, com o apoio de membros da força pública.
No governo do direitista Álvaro Uribe (2002-2010), mais de 30.000 paramilitares se desmobilizaram sob um sistema especial de justiça, que previa um máximo de oito anos de prisão em troca do seu desarmamento e da confissão de crimes.
As antigas AUC, no entanto, alegam que alguns de seus combatentes continuam presos ou ficaram em um limbo em seus processos judiciais, que os impedem de conseguir emprego, votar ou abrir contas bancárias, segundo depoimentos dados à AFP em Puerto Boyacá, antigo reduto paramilitar às margens do rio Magdalena.
- Perdão -
Vestidos de branco e com bonés camuflados com a inscrição "Primeiro Encontro Nacional pela Paz", os ex-paramilitares ouviram seus porta-vozes e o alto comissário para a Paz, Danilo Rueda, que falou em nome do governo.
"Procuramos resolver lacunas, inseguranças e indefinições, para buscar um fechamento político digno", declarou Edward Cobos. Ao redor, alguns ex-guerrilheiros das Farc, seus antigos inimigos na guerra, observavam com atenção.
Em uma breve intervenção, o comissário Rueda disse aos ex-paramilitares que a sua reintegração “é um compromisso do governo que nunca lhes foi negado”. “Existem questões dos signatários da paz que não foram abordadas com responsabilidade em termos de reincorporação”, reconheceu mais tarde.
No poder desde agosto, Gustavo Petro dialoga com todos os grupos ilegais e explora caminhos diferentes com cada um deles para conseguir que se desarmem. Em novembro passado, ele montou uma mesa de negociações de paz com a guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN) e deseja fazer o mesmo com as dissidências das Farc que rejeitaram o acordo de 2016. Também oferece benefícios penais para grupos de narcotraficantes em troca de que abandonem seu negócio.
“Queremos reiterar nossa vontade de paz, expressar nosso arrependimento, pedir perdão publicamente às vítimas, reiterar nosso compromisso”, disse à AFP o ex-comandante paramilitar Rodrigo Pérez, conhecido como Julián Bolívar.
Ex-rebeldes das Farc apoiaram os pedidos dos ex-paramilitares. "A Colômbia precisa da paz total. Nestes cenários de reconciliação em que nos encontramos hoje, enviamos uma mensagem de que, sim, podemos todos caminhar para uma nova sociedade", disse à AFP a senadora e ex-guerrilheira Sandra Ramírez, do partido Comunes, que surgiu do acordo de paz.
Apesar da desmobilização dos paramilitares e da maior parte das Farc, a violência financiada pelo narcotráfico persiste na Colômbia, deixando 9 milhões de vítimas em mais de meio século.
G.Kuhn--NZN