Milhares de civis são retirados de áreas inundadas após destruição de represa na Ucrânia
Equipes ucranianas e unidades russas resgataram nesta quarta-feira (7) milhares de civis das áreas inundadas após a destruição da represa de Kakhovka, em uma área controlada pela Rússia no sul da Ucrânia.
O governo russo diz temer uma catástrofe humanitária e ecológica na região.
A Rússia também acusou Kiev, nesta quarta-feira, de ter explodido em um "ato terrorista" um trecho do oleoduto de amônia que liga a cidade russa de Togliatti e Odessa, no sul da Ucrânia, crucial para a exportação dessa substância e de fertilizantes.
Moscou e Kiev trocam acusações sobre o ataque de terça-feira contra a represa estratégica, que abastece a Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.
Em sua primeira reação pública ao ocorrido, o presidente russo, Vladimir Putin, chamou-o de "selvageria" cometida por Kiev que causará "um desastre ambiental e humanitário de grande escala" durante uma conversa telefônica com seu homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan.
A cidade de Kherson, sob controle ucraniano desde novembro, a 70 km da represa, estava com as ruas inundadas nesta quarta-feira. Natalia Korj, de 68 anos, contou que precisou nadar para sair de casa.
"Todos os cômodos estão debaixo d'água. Minha geladeira está flutuando. Estamos acostumados com tiros (de artilharia), mas uma catástrofe natural é um verdadeiro pesadelo. Eu não esperava isso", disse à AFP, descalça e com as mãos paralisadas pelo frio, depois de ser resgatada pelos serviços de emergência.
- Água na altura da cintura -
Nas ruas do centro de Kherson, a água chegava na altura da cintura dos moradores. Perto do rio Dnieper, o nível atingiu cinco metros.
"O perigo vem de lá, ou daqui", declarou Svetlana Abramovitch, de 56 anos, apontando para o "front" de batalha, onde canhões russos estão posicionados, e depois para a água em seus pés.
De acordo com o chefe da administração militar da região de Kherson, Oleksander Prokudin, 1.700 pessoas foram resgatadas das áreas inundadas sob controle ucraniano. Kiev estima que mais de 17.000 civis precisam ser retirados.
Segundo a Ucrânia, o ataque à represa, tomada pela Rússia no início da guerra, em fevereiro do ano passado, foi uma tentativa de Moscou de impedir a esperada contraofensiva de Kiev, cujo governo garantiu que não será afetada.
Para o primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal, a Rússia provocou "uma das piores catástrofes ao meio ambiente das últimas décadas".
Os aliados ocidentais da Ucrânia também criticaram o ataque, que coloca em risco a vida de civis, em uma região já devastada pela guerra.
O governo dos Estados Unidos afirmou que a explosão pode ter provocado várias mortes. Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, o ataque é "outra consequência devastadora da invasão russa à Ucrânia".
Aliada crucial da Rússia, a China expressou preocupação com "o impacto humano, econômico e para o meio ambiente" da explosão.
O presidente turco Erdogan sugeriu a criação de uma comissão internacional de investigação sobre o incidente, em conversa por telefone com seu homólogo ucraniano, Volodimir Zelensky.
- "Bomba ambiental" -
O presidente ucraniano alertou Erdogan sobre as "consequências humanitárias e ambientais" do "ato terrorista russo" contra a represa, incluindo "os riscos na usina nuclear de Zaporizhzhia", tuitou.
Zelensky acusou a Rússia de detonar uma "bomba ambiental de destruição em massa". Mais de 150 toneladas de óleo de motor foram derramadas no rio, e milhares de hectares de terra serão inundados, de acordo com Kiev.
"Perdas de peixes já foram registradas na região", anunciou o Ministério ucraniano da Agricultura, advertindo que haverá escassez de água para irrigação com o esvaziamento do reservatório de Kakhovka.
"O mundo tem que reagir", convocou Zelensky.
A destruição parcial da represa, construída na década de 1950, provoca o temor de consequências para a central nuclear de Zaporizhzhia, que fica a 150 km de distância, porque a usina hidrelétrica de Kakhovka garante água de resfriamento para o local.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) destacou, no entanto, que "não há perigo imediato" e acrescentou que os especialistas estão monitorando a situação.
A explosão que, segundo Moscou, destruiu um trecho do oleoduto de amônia entre a cidade russa de Togliatti e a cidade ucraniana de Odessa na noite de segunda-feira, aconteceu perto de Masiutovka, cidade controlada por forças russas na região de Kharkiv (nordeste).
Várias pessoas ficaram feridas, e foram afetadas algumas instalações "cruciais para garantir a segurança alimentar no mundo", disse a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, nesta quarta-feira.
Antes do conflito, o oleoduto permitia à Rússia exportar todo ano mais de 2,5 milhões de toneladas de amônia, um componente essencial dos fertilizantes, principalmente para a União Europeia. Estava desativado desde fevereiro de 2022, mas Moscou esperava que voltasse a funcionar.
M.Hug--NZN