Fundador de jornal crítico do governo é condenado à prisão na Guatemala
Um tribunal da Guatemala condenou nesta quarta-feira (14) a seis anos de prisão o fundador de um jornal crítico do governo, em um julgamento polêmico por lavagem de dinheiro, denunciado por sindicatos internacionais.
O jornal fechou em 15 de maio, após 27 anos de circulação. José Rubén Zamora, na prisão há quase 11 meses, tinha esperança de ser absolvido no julgamento, classificado por organizações de imprensa como "um ato de intimidação" e "caça às bruxas".
Ao chegar ao tribunal, algemado, Zamora informou que sua mulher, Minayú Marroquín, havia fugido para os Estados Unidos. "Tenho um filho no exílio que tem contra si um mandado de prisão. Por sorte, minha mulher partiu ontem à noite também para os Estados Unidos, porque acredito que desejam prendê-la."
No julgamento, que teve início em 2 de maio, a Promotoria havia pedido 40 anos de prisão para Zamora, 66, por lavagem de dinheiro, chantagem e tráfico de influência, uma pena desproporcional, segundo seu filho, Ramón Zamora. O tribunal admitiu apenas as acusações de lavagem de dinheiro, e também condenou Zamora a pagar uma multa de US$ 37,5 mil (R$ 182 mil).
A ex-promotora Samari Gómez, julgado com Zamora sob a acusação de vazar informações para ele, foi absolvida.
- 'Perseguição e pressão' -
A Promotoria acusou Zamora de tentar lavar a quantia de US$ 37,5 mil, "fruto de chantagens e extorsões" contra empresários para não publicar informações contra eles. O jornalista, no entanto, afirmou que a maioria do dinheiro foi levantada com a venda de uma obra de arte para financiar seu veículo de comunicação, que arrastava uma crise financeira agravada com a sua prisão.
Zamora acusa o presidente guatemalteco, Alejandro Giammattei, e a procuradora-geral Consuelo Porras, alvo de sanções dos Estados Unidos, de terem fabricado o caso para silenciá-lo, por causa de publicações sobre a corrupção no governo.
O jornal "El Periódico" recebeu diversos prêmios. Alguns de seus jornalistas fugiram para o exílio depois que um juiz autorizou a sua investigação pela cobertura dos processos criminais contra Zamora.
- Perseguição a advogados -
A Promotoria abriu outros dois processos contra Zamora, um por suposta tentativa de frear uma investigação por lavagem de dinheiro e outro pelo suposto uso de assinaturas falsas por ocasião de viagens ao exterior entre 2015 e 2017.
Zamora afirmou hoje na audiência que, entre os advogados que participaram da sua defesa, "a maioria foi perseguida pelo Estado, quatro foram presos e dois deixaram o país".
Órgãos de defesa dos direitos humanos e sindicatos de imprensa internacionais criticaram o julgamento de Zamora, em meio à campanha para as eleições gerais do próximo dia 25.
O caso Zamora ocorre após a prisão de ex-promotores e juízes que investigaram casos de corrupção de alto nível e que são acusados, em sua maioria, de abuso de autoridade. Segundo a HRW, oito deles estão presos, e mais de 30, no exílio.
Para o candidato de centro à presidência Edmond Mulet, a perseguição a jornalistas e promotores mostra que a Guatemala se inclina, "aos poucos, para um modelo autoritário. Não digo uma ditadura, neste momento, mas autoritário."
Y.Keller--NZN