Doadores debatem ajuda ao Sudão, que entra no segundo dia de trégua
Doadores internacionais discutem nesta segunda-feira (19) em Genebra a ajuda ao Sudão, um dia após a entrada em vigor de uma trégua de 72 horas entre os dois generais em guerra para permitir o ingresso de assistência humanitária urgente no país africano.
A sede da ONU em Genebra convocou a conferência de doadores, com a participação de vários países, para debater a ajuda ao Sudão, cenário de um conflito extremamente violento entre o exército, liderado pelo general Abdel Fatah al Burhan, e as paramilitares Forças de Apoio Rápido (FAR), de Mohamed Hamdan Daglo.
A ONU destacou em um comunicado que espera o anúncio dos doadores de "compromissos para abordar a crise humanitária e que reiterem a necessidade de que as partes em conflito no Sudão cumpram suas obrigações sob o direito humanitário internacional".
"Até o momento, o Plano de Resposta Humanitária para o Sudão recebeu menos de 16% dos 2,57 bilhões de dólares (12,4 bilhões de reais) necessários, enquanto o Plano de Resposta Regional para os Refugiados, de US$ 470 milhões (R$ 2,26 bilhões), dispõe de apenas 17%", acrescenta a nota.
Os dois lados em disputa anunciaram e violaram diversas tréguas durante a guerra, que provocou mais de 2.000 mortes e forçou o deslocamento de mais de dois milhões de pessoas, incluindo ao menos 528.000 que fugiram para o exterior.
De acordo com a ONU, mais de 25 milhões de pessoas, metade da população sudanesa, depende da ajuda humanitária.
A atual trégua entrou em vigor às 6H00 (1H00 de Brasília) de domingo. Os países mediadores, Arábia Saudita e Estados Unidos, afirmam que as duas forças em conflito concordaram em evitar ataques, além de permitir a liberdade de deslocamento e a entrega de ajuda.
Testemunhas em Cartum afirmaram que situação era "calma" nesta segunda-feira. Mas os confrontos se intensificaram antes do anúncio da trégua, no sábado.
As FAR afirmaram que acatariam o cessar-fogo, enquanto o exército destacou que, apesar do "compromisso com a trégua, responderá de maneira determinada a qualquer violação cometida pelos rebeldes".
A Arábia Saudita ameaçou suspender as negociações em seu território se as partes "não respeitarem a trégua de 72 horas".
No sábado, caças atacaram distritos residenciais de Cartum, onde morreram 17 civis e cinco crianças, de acordo com uma organização civil. A AFP não conseguiu comprovar a informação com outras fontes.
As FAR acusaram o exército de atacar áreas residenciais e afirmaram que derrubaram um caça.
Várias missões diplomáticas na capital foram atacadas ou saqueadas - a maioria das embaixadas interrompeu as atividades desde o início dos combates.
Os combates afetaram a região de Darfur, na fronteira com o Chade, e o governo dos Estados Unidos afirmou que 1.100 pessoas morreram apenas em El Geneina, capital de Darfur Ocidental.
A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) fez um apelo por mais leitos e trabalhadores ao longo da fronteira com o Chade, onde afirma ter recebido mais de 600 pacientes, em sua maioria com ferimentos de tiros.
A Organização Internacional para as Migrações informou que pelo menos 149.000 pessoas fugiram de Darfur para o Chade.
Washington atribuiu as atrocidades desta semana em Darfur "principalmente" às FAR e destacou que as supostas violações dos direitos humanos são uma "recordação sinistra" do genocídio registrado na região há alguns anos.
Darfur foi cenário de uma guerra prolongada que começou em 2003 com uma revolta rebelde que levou o então presidente Omar al-Bashir a mobilizar a milícia Janjaweed, cujas ações resultaram em denúncias de genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
A Janjaweed posteriormente deu origem às FAR.
F.E.Ackermann--NZN