Putin agradece ao exército por impedir 'guerra civil' após rebelião do grupo Wagner
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, homenageou nesta terça-feira (27) o exército do país que, segundo ele, impediu uma "guerra civil" durante a rebelião do grupo paramilitar Wagner, que foi perdoado mas recebeu a ordem de entregar suas armas pesadas.
Ainda é necessário aguardar para compreender as consequências do motim dos combatentes do grupo Wagner, liderados pelo bilionário Yevgueni Prigozhin, mas o Kremlin rebateu nesta terça-feira a análise de que Putin saiu enfraquecido da crise, a mais grave já registrada em suas duas décadas no poder.
"Com seus irmãos de armas, vocês foram contrários aos distúrbios, cujo resultado teria sido inevitavelmente o caos", declarou Putin durante uma cerimônia militar em Moscou. "Na prática, evitaram uma guerra civil", acrescentou.
O presidente russo pediu um minuto de silêncio para os pilotos do exército que morreram em ataques durante o motim quando "cumpriam seus deveres com honra".
Algumas horas antes, o Ministério da Defesa da Rússia, muito criticado pela milícia, anunciou "preparativos para transferir ao exército os equipamentos militares pesados do grupo Wagner às unidades ativas das Forças Armadas".
Uma medida que parece ter o objetivo de neutralizar o grupo Wagner, cujo fundador e líder não aparece em público desde o fim da rebelião frustrada, no sábado à noite.
Na segunda-feira, o presidente russo se mostrou satisfeito por ter evitado um "derramamento de sangue" durante a rebelião, na qual Prigozhin e seus combatentes tomaram o controle de várias unidades militares do sudoeste do país e avançaram com seus tanques na direção de Moscou.
Depois de denunciar uma "traição", Putin afirmou que os combatentes do grupo Wagner poderiam retornar para suas casas, entrar para o exército ou seguir para Belarus, cujo presidente, Alexander Lukashenko, atuou como mediador na crise.
Putin afirmou ainda, durante uma reunião com comandantes militares, que entre maio de 2022 e maio de 2023, o Estado pagou 86,262 bilhões de rublos (um bilhão de dólares, 4,7 bilhões de reais na cotação atual) ao grupo Wagner.
Alguns analistas e governantes ocidentais consideraram o incomum gesto de clemência uma demonstração de fragilidade do presidente russo.
Uma opinião rejeitada de modo veemente pelo Kremlin.
"Não concordamos", afirmou o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov. "Estes acontecimentos demonstraram o quanto a sociedade está consolidada ao redor do presidente", acrescentou.
- Prigozhin em Belarus? -
Lukashenko, grande aliado de Putin, considerou que a rebelião foi resultado da má gestão das rivalidades entre o grupo Wagner e o exército russo, que aumentaram consideravelmente nos últimos meses.
"A situação fugiu do controle, depois pensamos que seria resolvida, mas não foi resolvida", declarou Lukashenko à imprensa. "Não há heróis nesta história".
Os amotinados constataram que "o exército e a população não estavam do lado deles", insistiu Putin.
O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, afirmou que o poder do chefe de Estado russo continua "estável" e que a rebelião "não significou grande coisa".
Na única mensagem de áudio divulgada desde o fim da rebelião, Prigozhin negou na segunda-feira uma tentativa de "derrubar o poder" e destacou que desejava apenas "salvar" o seu grupo, sob risco de ser absorvido pelo exército.
O paradeiro do empresário permanece desconhecido. Alguns meios de comunicação de Belarus informaram que um jato particular de Prigozhin pousou nesta terça-feira no país, mas nem as autoridades nem o fundador do grupo Wagner confirmaram a notícia.
- Caso encerrado -
Em mais uma demonstração de que Prigozhin e o Kremlin alcançaram um acordo, o Serviço Federal de Segurança (FSB) da Rússia anunciou nesta terça-feira a retirada das acusações contra o grupo Wagner por "rebelião armada".
Uma atitude indulgente que contrasta com a repressão implacável contra qualquer opositor ou pessoa anônima que critica a ofensiva militar na Ucrânia, ainda mais levando em consideração que o próprio Putin reconheceu que pilotos do exército russo morreram durante o motim.
A rebelião levou Lukashenko a ordenar que o exército de Belarus se preparasse para o combate, afirmou o bielorrusso nesta terça-feira.
Alguns analistas também consideram que a revolta poderia enfraquecer as tropas russas na Ucrânia e beneficiar a contraofensiva do exército de Kiev.
Putin disse que o exército russo não precisou transferir nenhum soldado do território ucraniano para enfrentar a rebelião.
"Não precisamos retirar unidades de combate da zona da operação militar especial na Ucrânia", destacou.
O conflito prossegue e o enviado do papa Francisco para a paz na Ucrânia, o cardeal Matteo Zuppi, visitará Moscou na quarta e quinta-feira, segundo o Vaticano.
O.Meier--NZN