Candidato da oposição desobedece convocação judicial sobre eleição na Venezuela
O candidato da oposição Edmundo González Urrutia desobedeceu, nesta quarta-feira (7), a uma convocação do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela, em um processo para "certificar" a questionada eleição na qual o presidente Nicolás Maduro foi declarado vencedor.
González, representante da líder inabilitada María Corina Machado, denunciou fraudes e afirma ter provas que mostram que venceu as eleições de 28 de julho.
"Se eu for à Câmara Eleitoral nestas condições, estarei em absoluta vulnerabilidade devido à indefesa e à violação do devido processo, e colocarei em risco não só a minha liberdade, mas, mais importante ainda, a vontade do povo venezuelano expressa em julho", destacou o opositor, de 74 anos, nas redes sociais.
Maduro recorreu ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), acusado de servir ao chavismo, para pedir que "certifique" sua eleição através de um processo que acadêmicos e dirigentes políticos consideram improcedente.
González já faltou a uma primeira audiência com todos os candidatos.
Maduro "disse publicamente (…) que se eu não comparecer incorrerei em responsabilidades legais, e que, se eu comparecer e apresentar cópias das atas de votação, também haverá graves responsabilidades criminais. Este procedimento é imparcial e respeita o devido processo? Estou condenado antecipadamente?", questionou.
O tribunal também alertou para as "consequências" do desacato. Maduro foi convocado para sexta-feira.
- "Respeito pela expressão majoritária" –
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) – também acusado de seguir uma linha governista – proclamou Maduro vencedor com 52% dos votos, embora ainda não tenha apresentado os detalhes da apuração, alegando ter sido vítima de um ataque ao sistema de informática.
A proclamação de Maduro gerou protestos em todo o país que deixaram pelo menos 24 mortos, segundo um relatório publicado na terça-feira por organizações de direitos humanos.
Maduro disse que há mais de 2.200 detidos, que serão transferidos para duas prisões de segurança máxima.
A oposição não reconheceu o resultado, assim como Estados Unidos, União Europeia e países latino-americanos como Chile, cujo presidente Gabriel Boric disse nesta quarta-feira não ter dúvidas de que Maduro tenta "cometer uma fraude".
"Se não, teria mostrado as famosas atas. Por que não fizeram isso? Se tivessem vencido, claramente, teriam mostrado as atas", disse Boric no Palácio de La Moneda.
Outros representantes da coligação opositora atenderam ao chamado do TSJ: o governador do estado de Zulia, Manuel Rosales, ex-rival do falecido presidente Hugo Chávez e representante do partido Um Novo Tempo; e José Luis Cartaya, do partido MUD, Mesa de Unidade Democrática, substituído pela atual Plataforma Unitária.
"Viemos atender à citação da Câmara Eleitoral e estaremos onde for necessário até que o respeito à expressão majoritária do povo se torne realidade", escreveu Rosales na rede social X.
A televisão estatal transmitiu imagens da audiência à qual Rosales compareceu acompanhado de dois advogados, e depois as de Cartaya.
"O objetivo da audiência (…) é receber os instrumentos eleitorais que estão em poder das organizações políticas e dos candidatos, além de responder às questões dos magistrados da Câmara eleitoral", indicou a secretária do TSJ no início da audiência, que foi privada.
- "Usurpação de funções" -
González Urrutia destacou que o TSJ "não pode usurpar as funções constitucionais" do Poder Eleitoral e "certificar resultados que ainda não foram produzidos".
O presidente do CNE, Elvis Amoroso, informou na segunda-feira que entregou toda a documentação relacionada às eleições, embora sem torná-la pública em meio à pressão internacional por transparência.
A oposição publicou em um site cópias de mais de 80% das atas que afirmam comprovar a eleição de González Urrutia, com 67% dos votos.
O chavismo afirma que também tem provas de sua vitória.
O.Meier--NZN