EUA cobra conclusão de acordo por trégua entre Israel e Hamas em Gaza
Os Estados Unidos, aliados de Israel, insistiram, nesta terça-feira (3), que é "hora de finalizar" um acordo de trégua em Gaza, apesar de o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ter alertado que não cederá às pressões para alcançar um pacto com o Hamas.
"Há dezenas de reféns que ainda estão em Gaza, esperando um acordo que os traga de volta para casa. É hora de finalizar esse acordo", afirmou o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller.
Suas declarações ocorreram apenas dois dias depois de o Exército israelense anunciar a descoberta de seis corpos de reféns em túneis da Faixa de Gaza. Os seis foram assassinados, segundo os militares israelenses, pelo impacto de balas a curta distância.
Os reféns foram capturados e levados para Gaza no ataque do movimento islamista palestino Hamas em 7 de outubro no sul de Israel. A retaliação israelense resultou em dezenas de milhares de mortos no sitiado território palestino, que nesta terça-feira foi alvo de novos bombardeios.
A descoberta dos corpos levou milhares de pessoas às ruas na véspera e desencadeou uma greve geral em Israel, em uma tentativa de aumentar a pressão para que o governo alcance um acordo com o Hamas que permita a liberação dos reféns que ainda estão em cativeiro em Gaza.
O porta-voz da diplomacia americana afirmou que Washington trabalhará "nos próximos dias" com os mediadores Egito e Catar "para impulsionar um acordo definitivo".
O presidente dos EUA, Joe Biden, repreendeu Netanyahu na segunda-feira por não fazer o suficiente para alcançar um acordo de trégua que inclua a liberação de reféns e de prisioneiros palestinos detidos em Israel.
Netanyahu, no entanto, destacou que não cederá às pressões e manterá a pressão militar sobre o Hamas, que governa Gaza e é considerado uma organização "terrorista" por Israel, Estados Unidos e União Europeia.
- "Flexibilidade" -
Após pedir publicamente "desculpas por não ter devolvido com vida" os reféns encontrados mortos, Netanyahu acusou o Hamas de tê-los "executado" com uma "bala na nuca" e prometeu que o movimento islamista pagará "um preço muito alto".
"Não cederei à pressão (...) Ninguém está mais comprometido do que eu com a libertação dos reféns. Ninguém pode me dar lições sobre isso", disse em Jerusalém.
"Agora devemos exercer a máxima pressão sobre o Hamas", que "deve fazer concessões", acrescentou.
O premiê reafirmou a necessidade de Israel manter o controle do corredor Filadélfia, ao longo da fronteira entre Gaza e Egito, um obstáculo nas negociações.
"Nos opomos à presença de tropas das Forças de Defesa de Israel em Gaza a longo prazo", assegurou Miller nesta terça-feira.
"Fechar um acordo exigirá que ambas as partes mostrem flexibilidade. Exigirá que ambas as partes busquem razões para chegar ao sim em vez de razões para dizer não", acrescentou.
O movimento islamista exige que todas as forças israelenses saiam do território palestino.
Abu Obeida, porta-voz das brigadas Ezzedin Al Qassam, o braço armado do Hamas, advertiu na segunda-feira que os reféns que ainda estão em Gaza voltarão "em caixões" se Israel mantiver sua pressão militar "em vez de fechar um acordo".
O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos pediu nesta terça-feira uma investigação "independente, imparcial e transparente" sobre a "execução sumária" dos reféns encontrados mortos.
- Combates em Gaza e operação na Cisjordânia-
Netanyahu "quer ocupar Gaza indefinidamente. Israel nunca devolverá um território que precisa para sua segurança", disse à AFP Mairav Zonszein, analista do International Crisis Group. "Basicamente, ele anunciou que nunca haverá um acordo sobre os reféns", acrescentou.
O primeiro-ministro afirma que continuará a guerra até a destruição do Hamas.
O conflito eclodiu em 7 de outubro, quando um ataque de combatentes do Hamas em Israel provocou a morte de 1.205 pessoas, em sua maioria civis, segundo um levantamento baseado em números oficiais israelenses.
Além disso, os combatentes islamistas sequestraram 251 pessoas: 97 continuam em cativeiro em Gaza e 33 morreram, segundo o Exército israelense.
Em resposta ao ataque, Israel lançou uma dura resposta que já deixou 40.819 mortos no território palestino, segundo o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, onde a campanha de vacinação contra a poliomielite tem tido sucesso. A Organização Mundial da Saúde informou nesta terça-feira que foram vacinadas mais crianças do que o esperado.
Embora "pausas humanitárias" tenham permitido vacinar as crianças, os combates e bombardeios continuam em Gaza.
Na Cisjordânia ocupada, o Exército lançou uma operação militar "antiterrorista" em grande escala há sete dias. A ofensiva já deixou 30 mortos desde 28 de agosto, segundo o Ministério da Saúde palestino.
F.Carpenteri--NZN