Vários ex-rebeldes, incluindo jihadistas estrangeiros, são nomeados oficiais do Exército sírio
O novo líder da Síria, Ahmed al Sharaa, nomeou ex-rebeldes para cargos de comando dentro do futuro exército do país, entre eles jihadistas estrangeiros, segundo especialistas.
As novas autoridades sírias anunciaram na semana passada um acordo para a dissolução dos grupos armados provenientes da coalizão de islamistas radicais que derrubou o presidente Bashar al Assad em 8 de dezembro e sua integração ao Ministério da Defesa.
Essas facções islamistas tomaram Damasco após uma ofensiva relâmpago de menos de duas semanas liderada pelo grupo Hayat Tahrir al Sham (HTS), comandado por Sharaa.
Após mais de meio século de domínio da família Assad, as novas autoridades trabalham para reestruturar o aparato do Estado instituído pelo governo anterior, cujo exército entrou em colapso.
Em um decreto publicado na noite de domingo no Telegram, o "Comando Geral" de Sharaa inclui uma lista de 49 nomes, entre eles os de rebeldes sírios e ex-oficiais do exército que desertaram após o início da guerra em 2011 e se aliaram aos rebeldes islamistas.
- "Reestruturação do exército" -
Essas nomeações ocorreram "no contexto do desenvolvimento e modernização do exército [...], para garantir a segurança e a estabilidade", segundo o decreto.
"A maioria das pessoas promovidas pertence ao círculo íntimo de Ahmed al Sharaa", declarou à AFP Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). Trata-se das primeiras promoções militares desde a tomada de poder pelos rebeldes.
"Os sete oficiais de maior patente parecem todos vir das fileiras do HTS", afirmou o analista Haid Haid.
Esse especialista acredita que esta é uma forma do grupo "posicionar seus membros e aqueles que lhe são próximos à frente do Ministério da Defesa e do futuro exército" e de "dirigir [sua] reestruturação".
Um dos dois homens nomeados generais é Murhaf Abu Qasra, chefe militar do HTS e que se perfila como o próximo ministro da Defesa no governo de transição.
Outros cinco foram nomeados como generais de brigada e cerca de quarenta receberam o posto de coronel.
O grupo HTS, anteriormente ligado à Al Qaeda, afirma ter rompido os laços com o jihadismo e as novas autoridades buscam tranquilizar a comunidade internacional, prometendo que respeitarão os direitos das minorias, em uma Síria multiconfessional e multiétnica.
O OSDH, que possui uma vasta rede de fontes na Síria, identificou pelo menos "seis jihadistas estrangeiros" na lista, incluindo um albanês, um jordaniano, um homem do Tajiquistão, um uigur e um turco que fazia parte do HTS.
Por sua vez, o especialista em movimentos jihadistas e no conflito sírio, Aymen al Tamimi, identificou três estrangeiros: um uigur, um jordaniano e um turco "que comandou os combatentes turcos sob o comando do HTS e agora [após a promoção] é um oficial de brigada", disse à AFP.
- Decisões "unilaterais" -
"Um dos princípios fundadores do HTS é que o grupo não trairá os muhajirin [estrangeiros], e não os entregará aos seus países de origem", precisou.
Se esses combatentes estrangeiros "forem abandonados à própria sorte na Síria, isso pode ser um problema", estima. "Integrá-los à nova ordem síria é a melhor estratégia", acrescenta.
Quase 14 anos de guerra na Síria deixaram mais de meio milhão de mortos e dividiram o país em zonas de influência controladas por beligerantes com interesses distintos.
O conflito levou à criação de uma multiplicidade de facções jihadistas que às vezes lutam entre si.
Mas com a transição que se inicia agora na Síria, Haid alerta sobre "a maneira como as decisões são tomadas [...] unilateralmente e sem consultar os outros" grupos.
"O atual líder do HTS [...] se outorga o direito não só de promover os seus, mas também os estrangeiros", enfatiza.
E isso "sem perguntar ao povo sírio se esses estrangeiros [...] podem obter a nacionalidade" caso sejam incorporados ao exército.
W.F.Portman--NZN