Zürcher Nachrichten - A dívida em aberto do Peru com milhares de mulheres esterilizadas à força

EUR -
AED 3.963234
AFN 76.086305
ALL 99.054872
AMD 422.000612
ANG 1.931653
AOA 989.452778
ARS 1157.60578
AUD 1.717208
AWG 1.944917
AZN 1.831215
BAM 1.955257
BBD 2.179725
BDT 131.19359
BGN 1.953835
BHD 0.406697
BIF 3159.342883
BMD 1.079011
BND 1.450004
BOB 7.460241
BRL 6.130724
BSD 1.079515
BTN 92.49276
BWP 14.81978
BYN 3.532836
BYR 21148.606728
BZD 2.168428
CAD 1.543077
CDF 3099.997488
CHF 0.953743
CLF 0.026614
CLP 1021.316118
CNY 7.844618
CNH 7.856481
COP 4476.275256
CRC 539.957654
CUC 1.079011
CUP 28.59378
CVE 110.703875
CZK 24.939059
DJF 191.761786
DKK 7.461886
DOP 68.247908
DZD 144.429186
EGP 54.570855
ERN 16.185158
ETB 140.383409
FJD 2.514688
FKP 0.832964
GBP 0.835429
GEL 2.977774
GGP 0.832964
GHS 16.722061
GIP 0.832964
GMD 77.689081
GNF 9339.915091
GTQ 8.330804
GYD 226.520284
HKD 8.396084
HNL 27.805753
HRK 7.533546
HTG 141.532358
HUF 402.08572
IDR 18058.212619
ILS 3.987554
IMP 0.832964
INR 92.372205
IQD 1413.503817
IRR 45426.343656
ISK 143.702923
JEP 0.832964
JMD 169.875217
JOD 0.765002
JPY 161.643332
KES 139.734056
KGS 93.510505
KHR 4273.960663
KMF 492.567633
KPW 971.091207
KRW 1588.163248
KWD 0.332669
KYD 0.899705
KZT 543.461694
LAK 23371.368448
LBP 96679.344745
LKR 319.622778
LRD 215.613286
LSL 19.939843
LTL 3.186038
LVL 0.652683
LYD 5.206271
MAD 10.39101
MDL 19.356794
MGA 5028.189316
MKD 61.493143
MMK 2265.151536
MNT 3767.661759
MOP 8.65302
MRU 42.960843
MUR 49.235367
MVR 16.632093
MWK 1873.162228
MXN 21.958921
MYR 4.794584
MZN 68.959579
NAD 19.939925
NGN 1663.985301
NIO 39.65908
NOK 11.298536
NPR 147.968736
NZD 1.889833
OMR 0.415397
PAB 1.079515
PEN 3.96482
PGK 4.355804
PHP 61.781971
PKR 302.392959
PLN 4.184802
PYG 8619.607841
QAR 3.928407
RON 4.975753
RSD 117.173023
RUB 91.177654
RWF 1527.878935
SAR 4.047645
SBD 9.075866
SCR 15.502996
SDG 647.406545
SEK 10.809269
SGD 1.450789
SHP 0.847933
SLE 24.574463
SLL 22626.31284
SOS 616.655953
SRD 39.485855
STD 22333.339816
SVC 9.445379
SYP 14029.138824
SZL 19.93974
THB 36.865658
TJS 11.761599
TMT 3.776537
TND 3.350873
TOP 2.527148
TRY 40.926131
TTD 7.325001
TWD 35.841277
TZS 2854.021747
UAH 44.678122
UGX 3944.923464
USD 1.079011
UYU 45.517368
UZS 13957.001874
VES 75.194961
VND 27660.435381
VUV 132.977879
WST 3.05119
XAF 655.78412
XAG 0.03207
XAU 0.000347
XCD 2.91608
XDR 0.813197
XOF 652.801749
XPF 119.331742
YER 265.437013
ZAR 19.967845
ZMK 9712.394484
ZMW 30.30801
ZWL 347.440956
A dívida em aberto do Peru com milhares de mulheres esterilizadas à força
A dívida em aberto do Peru com milhares de mulheres esterilizadas à força / foto: Ernesto BENAVIDES - AFP

A dívida em aberto do Peru com milhares de mulheres esterilizadas à força

Florentina foi esterilizada à força quando tinha apenas 19 anos, um bebê de meses e mal falava espanhol. Três décadas depois, esta mulher indígena pede justiça, assim como outras milhares de peruanas, vítimas de uma prática oficial e "sistemática" denunciada pela ONU.

Tamanho do texto:

Na época, o país estava em meio ao fogo cruzado entre o governo do então presidente Alberto Fujimori (1990-2000) e as guerrilhas sanguinárias da extrema esquerda. Fujimori morreu em setembro de 2024, após ser indultado ao cumprir 16 dos 25 anos de sua pena de prisão por violação dos direitos humanos.

Durante o período em que esteve no poder, em vários pontos do Peru, mulheres sem recursos ou estudos, muitas delas indígenas quéchuas, eram esterilizadas sem seu consentimento.

Tratou-se de uma prática "sistemática", que violou "300.000 mulheres"; uma "forma de violência" de gênero que constitui um crime de lesa humanidade, denunciou, em outubro, o Comitê para a Eliminação da Discriminação contra a Mulher das Nações Unidas, que exigiu do Peru indenização e reparação às vítimas.

Foi mais que um programa de planejamento familiar para impedir que "as mulheres mais pobres se reproduzam", explica à AFP Leticia Bonifaz, que fez parte desta comissão até 2024.

Tratou-se do maior caso de esterilizações forçadas documentado na América Latina, afirmou Bonifaz.

- "Secando por dentro" -

Aos 46 anos, Florentina Loayza é ativista de sua própria causa. Raramente sorri. Usa chapéu e traz estampado em uma camiseta branca seu clamor por justiça.

Acompanhada por um punhado de mulheres, ela se postou em janeiro de 2025 em frente à sede do Ministério da Justiça, em Lima, para exigir "reparações integrais agora".

Em 1997, ela vivia em uma comunidade rural a 3.500 metros de altitude na região de Huancavelica, no sudeste do Peru. Havia menos de um ano tinha dado à luz seu primeiro filho quando aceitou ir ao centro de saúde recolher "provisões" oferecidas por funcionários do Estado.

Lembra que ela e outras indígenas foram amontoadas como "carneiros" em um caminhão. Ao chegarem, "as enfermeiras nos agarraram e prenderam na maca. Colocaram um soro em nós e não me lembro de mais nada". Quando acordou com uma ferida, informaram-lhe que foi operada "para não ter filhos".

Nem sua comunidade, nem seu companheiro acreditaram que ela havia sido operada contra sua vontade. Disseram-lhe que ela se submeteu à esterilização "por querer estar com vários homens". Foi deixada pelo marido e ela teve que emigrar para Lima, onde ganha a vida fazendo faxinas. Hoje, garante, sofre de dores intensas no ventre.

Fujimori sempre tachou as acusações de "falsas". Em uma decisão de 2023, a justiça peruana reconheceu que as "esterilizações involuntárias foram uma política pública".

E ordenou o Estado a indenizar as vítimas e garantir seu acesso a serviços de saúde, uma decisão que ainda não foi acatada.

Mais de 7.000 mulheres estão inscritas até agora no registro estatal que identifica as vítimas. Segundo o Ministério Público, ainda não há condenados e apenas 3.000 casos estão em investigação preliminar.

"Arrancaram a vida de mim", lamenta Florentina. Além de uma indenização, ela pede que o Estado peruano lhe dê acesso a um tratamento de saúde. "No rosto, parecemos bem, mas estamos secando por dentro", soluça.

- "Cicatriz interna" -

Na casa que divide com os quatro filhos, nos arredores de Lima, María Elena Carbajal mostra a única foto que guarda de sua última gestação antes de ser esterilizada, aos 26 anos.

Ela deu à luz em um hospital público da cidade. Segundo seu relato, os médicos lhe disseram que se quisesse ver novamente seu bebê, deveria se submeter a uma "laqueadura de trompas", pois a criticaram porque "tinha muitos filhos". Aterrorizada, aceitou.

Encurvada de dor, ainda no hospital, com o recém-nascido nos braços, contou o ocorrido ao seu marido. Ele tampouco acreditou nela quando disse que tinha sido operada contra sua vontade. "Eu me sentia culpada pelo que havia acontecido; (de) que meu esposo tivesse me deixado".

Ela seguiu sozinha com seus quatro filhos. Assim como Florentina, ganhou a vida limpando casas. Anos depois, precisou se tratar de um déficit hormonal provocado pela esterilização.

Além da visível, "está a cicatriz interna", a do "abandono das nossas famílias".

Aos 55 anos, ela chefia uma organização de mulheres vítimas da "política pública". Em 2021, enquanto participava de um ato de protesto, foi agredida por um grupo de extrema-direita alinhado ao fujimorismo identificado pelo Poder Judiciário.

Desde então, convive com uma dolorosa lesão na coluna, pela qual espera há dois para ser operada.

"Este silêncio (...) começa pelo Estado, que nunca pediu perdeu a estas mulheres", assinala María Esther Mogollón, assessora de uma organização que reúne cerca de 3.000 vítimas em nível todo o Peru.

O.Pereira--NZN