Mudança climática não desperta preocupação em convenção que chancela Trump como candidato
A mudança climática parece preocupar pouco os participantes na convenção republicana em Milwaukee, reunida para chancelar Donald Trump como candidato às eleições americanas de novembro.
"Não acredito em tudo isso", afirma Jack Prendergast, delegado de Nova York na reunião, convencido de que as "erupções vulcânicas" causam tanto dano ao planeta como "as ações do homem".
Espera impaciente o retorno de Donald Trump à Casa Branca para que os Estados Unidos "se tornem o primeiro produtor de petróleo e gás do mundo".
- "Mata os pássaros" -
O ex-presidente, que concorre para tirar Joe Biden da Casa Branca, tem o lema de "drill, baby, drill", que resume seu apoio à exploração e uso de combustível fósseis.
Trump, que regularmente faz comentários céticos sobre o clima, denunciou o Acordo de Paris durante seu primeiro governo.
Esta semana, os republicanos chancelaram sua candidatura para um segundo mandato. Para ser seu companheiro de chapa, Trump escolheu o senador J.D. Vance, também cético sobre o clima.
O senador originário de Ohio, que se tornará vice-presidente se Trump for eleito, acusou no passado os democratas de despertar os temores sobre a "crise ambiental" com fins eleitorais.
O programa que os dois defenderão nas eleições foi adotado na segunda pelos delegados republicanos em Milwaukee. O documento de 5 mil palavras não faz a menor menção ao clima nem às energias renováveis, apesar de o país sofrer uma onda de calor.
Pelo contrário, o texto pede o fim das medidas "verdes", qualificadas de "socialistas". O próprio Trump se opõe à energia eólica, convencido de que as turbinas "matam os pássaros".
- “Trabalho de longo prazo” -
Ambientalistas como o Sunrise Movement criticaram a plataforma republicana, dizendo que o partido “deixou claro que está feliz em piorar a crise climática”.
“Temos que ver as palavras deles com um pouco de perspectiva”, sorri Stephen Perkins, da American Conservation Coalition, talvez o único estande na convenção de Milwaukee a discutir a preservação do planeta.
“Acho que alguns de seus comentários têm mais a intenção de entreter do que de expressar posições políticas”, disse à AFP o jovem de 29 anos.
Sua organização está presente nesse grande centro esportivo de Milwaukee para defender uma “abordagem conservadora da política climática”, que poderia permitir aos republicanos “conquistar” o voto dos jovens, acredita ele.
“É uma tarefa de longo prazo”, admite Perkins, referindo-se a uma ‘aversão natural’ à questão, especialmente entre os republicanos mais velhos.
- “Seita radical” -
De acordo com uma pesquisa de Yale divulgada na terça-feira, mais de dois terços dos americanos acreditam na existência da mudança climática.
No entanto, isso não se traduz necessariamente em apoio ao presidente democrata Joe Biden, que promoveu várias iniciativas para combater o aquecimento global durante seu mandato.
Perkins, por outro lado, acredita que Biden está à mercê de uma “seita radical” de progressistas “que não se prendem a nuances”. Seu estande na convenção exibe a palavra “destruição” ao lado de imagens de ativistas ambientais de esquerda jogando sopa em uma obra de arte.
Se Trump vencer, isso mostrará que “temos um futuro brilhante pela frente”, apesar dos desafios da mudança climática, em vez de “pessimismo”, acrescenta ele.
Mas, nesse caso, por que não apoiar o presidente democrata Joe Biden, que aprovou centenas de bilhões de dólares para combater o aquecimento global durante seu mandato?
F.Carpenteri--NZN